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"Meu mundo interior é, e sempre foi, muito rico e intenso. Por isso o mundo exterior naquela época não me interessava muito. Eu criava o meu"
Raul Seixas
[ Fonte (frase): raulsseixas,wordpress.com ]
"Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade"
Raul Seixas
"O Eduardo Dusek me chamou de "Aracy de Almeida do Rock" e eu não sabia se era elogio ou xingamento. Parecido comigo, acho que só o Sílvio Brito. Esse tinha umas coisas na minha linha"
Raul Seixas
[ Fonte (frases): Livro "Raul Seixas Por Ele Mesmo" ]
"O talento faz a medida de cada artista. Quando sua obra é capaz de transceder o tempo é porque, de fato, ela possui qualidades para ser chamada de arte. Nesse contexto se insere a obra de Raul Seixas, que o conssagrou como um verdadeiro precursor do Rock Nacional"
Isaac Soares de Souza
[ Fonte (frase): Contra-capa do livro "Dossiê Raul Seixas" - Editora "Universo das Letras" (1ª edição) ]
Nome completo: Raul Santos Seixas
Nome artístico: Raul Seixas
Codinome: "Maluco Beleza"
Data de nascimento: 28/06/1945
Local: salvador/BA
Data de falecimento:
Local:
Gênero: Rock
BIOGRAFIA
Raul Seixas – "O Moleque Maravilhoso"
por Sylvio Passos
Maria Eugênia Pereira dos Santos era uma garotinha bonita quando conheceu Raul Varella Seixas. Ela tinha sete anos, e ele nove. O namoro, que durante anos ficou somente na troca de olhares e bilhetinhos, culminou no casamento dos dois, às 17:30h do dia 16 de setembro de 1944, na Igreja do Bonfim, em Salvador, na Bahia. Nove meses após a união de Raul e Maria Eugênia, nascia o primeiro filho do casal, Raul Santos Seixas, em 28 de junho de 1945.
A vasta biblioteca de seu pai era seu brinquedo favorito. E foi daí que veio o gosto pela palavra e a miopia precoce. Vivia trancado no quarto devorando o “Livro dos Porquês” do “Tesouro da Juventude”. Inventava histórias fantásticas que, transformadas em gibis, e com desenhos do próprio Raul, eram vendidos ao irmão caçula, Plininho (Plínio Santos Seixas, três anos mais novo). Melô era o personagem central de suas histórias, um cientista louco que viajava no tempo com figuras históricas, Deus e o Diabo.
No ano de 1954, Raul ganhou seu primeiro violão, presente dos pais, ao qual, a princípio, ele não deu muita importância. Porém, pouco a pouco, foi dedilhando e, sozinho, aprendeu a tocar algumas músicas, acabando por se apaixonar pela novidade.
A família Seixas mudou-se para uma casa que ficava próxima ao Consulado Americano. Ali Raul conheceu os garotos do consulado, que lhe emprestaram alguns discos de Elvis Presley, Little Richard, Fats Domino, Chuck Berry etc. Foi o primeiro contato com o Rock and Roll.
“Eu ouvia os discos de Elvis Presley até estragar os sulcos. O rock era como uma chave que abriria minhas portas que viviam fechadas. Usava camisa vermelha, gola virada para cima. As mães não deixavam as filhinhas chegarem perto de mim porque eu era torto como o James Dean. Olhava de lado, com jeito de durão. Cada vez que eu cumprimentava uma pessoa dava três giros em torno do próprio corpo. Eu era o próprio rock. Eu era Elvis quando andava e penteava o topete. Eu era alvo de risos, gracinhas, claro. Eu tinha assumido uma maneira de vestir, falar e agir que ninguém conhecia. Claro que eu não tinha consciência da mudança social que o rock implicava. Eu achava que os jovens iam dominar o mundo.”
Aos poucos a escola foi ficando de lado. O bom era ficar na loja Can-tinho da Música, curtindo rock and roll ou marcando ponto no Elvis Rock Club, fã-clube de Elvis Presley, fundado por Raulzito e o amigo Waldir Serrão. Corria o ano de 1962 e a necessidade de fazer rock levou Raul a fundar, ao lado dos irmãos Délcio e Thildo Gama, o grupo Os Relâm-pagos do Rock. Chegaram a se apresentar na TV Itapoan, onde foram chamados de cantores de “música de cowboy”.
O ano de 1964 foi importante para Raul Seixas. Os Relâmpagos do Rock, com nova formação, passam a se chamar The Panthers. Foi também o ano da profissionalização definitiva e da des-coberta dos Beatles.
Ainda em 1964, The Panthers entra em estúdio para gravar aquela que viria a ser a primeira gravação oficial: duas músicas para serem lançadas em um compacto (“Nanny”/ “Coração Partido”) pela Astor, que acabaram ficando apenas no acetato, não sendo lançadas comercialmente. Somente em 1992, a música “Nanny” seria lançada, entre outras gravações raras, no álbum O Baú do Raul.
O grupo passou então a se chamar Raulzito & Os Panteras. Depois de comprar uma aparelhagem nova e melhor, passou a tocar em boates e em shows em que, muitas vezes, brilhavam astros da Jovem Guarda como Roberto Carlos, Wanderléa, Jerry Adriani e, Rosemary, entre outros. Seus maiores rivais são os grupos de samba e bossa nova, aquartelados no Teatro Vila Velha de um lado e do outro o Cinema Roma, que era o templo do rock and roll, organizado por Waldir Serrão, O Big Ben.
Em nome do namoro com a americana Edith Wisner, Raul resolve parar tudo e retomar os estudos e, em pouco tempo, prestar o vestibular (para passar num dos primeiros lugares) para a faculdade de Direito. “Eu queria provar às pessoas, à minha família, como era fácil isso de estudar, passar em exames. Como não tinha a mínima importância.” Tão sem importância que, em 1967, decide ao mesmo tempo casar com Edith e retomar a carreira com Os Panteras.
Atendendo a um pedido de Jerry Adriani, Raul, Edith e Os Panteras partiram em viagem para o Rio, realizando um velho sonho. Conseguiram gravar, para a Odeon, o LP Raulzito e Os Panteras. Lançado em 1968, o disco foi ignorado tanto pela crítica quanto pelo público.
Com o fracasso do disco, ficam algum tempo como banda de apoio de Jerry Adriani, até a dissolução do grupo. “Só sobrou eu. Os outros não aguentaram a barra e caíram fora”. Desiludido e psicologicamente abalado, Raul voltou para Salvador.”
Em 1970, conheceu Evandro Ribeiro, diretor da CBS, hoje Sony Music. “Talvez eu tivesse trilhado o caminho da paranóia se não tivesse tido a chance que tive. Conheci o diretor da gravadora CBS lá mesmo, na Bahia, e foi ele mesmo quem me deu oportunidade de estar em contato com a arte outra vez.”
E lá se foi Raul, com Edith, de volta para o Rio; desta vez para trabalhar como produtor de discos na CBS. Durante um ano, Raul criaria músicas e discos de sucesso para Jerry Adriani, Trio Ternura, Renato e Seus Blue Caps, Tony e Frankie, Diana e Sérgio Sampaio. “Sérgio Sampaio foi o primeiro artista que eu realmente descobri. Acreditei muito nesse cara. Acreditei tanto que ele me incentivou a ser artista outra vez.” Em novembro daquele ano, nasceu Simone, a primeira filha.
O incentivo de Sérgio Sampaio levou Raul a produzir e lançar, em julho de 1971, aproveitando a viagem do presidente da CBS, o LP Sociedade da Grã-Ordem Kavernista – apresenta – Sessão das 10, com participações do próprio Raul, com Sérgio Sampaio, Miriam Batucada, Edy Star.
Isso lhe valeu a expulsão da CBS quando o presidente voltou. O disco então sumiu, “misteriosamente”, do mercado.
Em setembro de 1972, no VII Festival Internacional da Canção, à frente de um público ávido por novidades, Raul, mais uma vez incentivado pelo amigo Sérgio Sampaio, resolveu se tornar “popular”. Inscreveu no festival as canções “Eu sou eu, Nicuri é o Diabo”, defendida por Lena Rios e Os Lobos, e “Let me Sing, Let me Sing”, mistura de rock com baião, interpretada pelo próprio Raul, travestido de Elvis. Ambas foram classificadas.
A classificação de “Let me Sing, Let me Sing” entre as finalistas, além da excelente repercussão que Raul Seixas provocou no público e na imprensa, garantiu a continuidade de sua carreira como cantor e compositor da Philips. A consagração ainda tardaria alguns meses; tempo durante os quais Raul atuaria ao velho estilo, como produtor (e, no caso, também como cantor, anônimo, sem crédito na capa) de um disco antológico de clássicos de rock and roll e da Jovem Guarda: Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock (selo Polyfar, 1973).
Em 1975, esse disco seria reeditado com algumas alterações, como o nome de Raul na capa e um novo título, 20 Anos de Rock, aproveitando a notoriedade de Raul. Mas o “buuum” só viria mesmo com a explosão do compacto ”Ouro de Tolo”, (curiosidade: teve que ser prensado duas vezes em uma semana!). ”Ouro de Tolo” tinha uma letra autobiográfica e ao mesmo tempo uma bofetada na face da classe média do país (que trocava a verdadeira realização pelo acesso às bugigangas comuns de consumo), naqueles tempos de Milagre Brasileiro.
Contratado pela Philips (gravadora onde brilhavam os medalhões da MPB como Caetano, Gil, Gal etc…), Raul Seixas partiu para o primeiro álbum solo, KRIG-HA, BANDOLO! O título refere-se ao grito de guerra de Tarzan, que quer dizer: “cuidado, aí vem o inimigo”. Lançado em 1973 é considerado pela crítica como
um dos seus melhores trabalhos.
Raul Seixas e Paulo Coelho lançam Sociedade Alternativa em agosto, e dedicam-se com afinco aos estudos esotéricos, mergulhando fundo na obra do mago inglês Aleister Crowley. Raul anunciava que era hora de mudar o mundo e distribuía nos shows um gibi/manifesto chamado “A Fundação de Krig-ha”, ilustrado por Adalgisa Rios (esposa de Paulo, na época). A Sociedade Alternativa, com sede alugada, papel timbrado e relatórios mensais, chegou a anunciar a aquisição de um terreno em Minas Gerais, para a construção da Cidade das Estrelas, uma comunidade onde a lei única era “Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei.” A ideia da Sociedade Alternativa não agradou a muitos e Raul foi preso e torturado pelo DOPS, tendo que deixar o país.
Raul, Paulo, Edith e Adalgisa decidiram partir para os Estados Unidos, onde fizeram contato com algumas personalidades.
Enquanto isso aqui no Brasil, a música “Gita” tocava de norte a sul do país. E foi graças a esse sucesso que Raul e Cia. voltaram para o Brasil. Foi nessa época que o casamento de Raul com Edith foi chegando ao fim, e ela decidiu voltar para os Estados Unidos, levando consigo a filha do casal.
O sucesso de Gita deu a Raul Seixas o primeiro Disco de Ouro, com mais de 600 mil cópias vendidas. O mesmo não aconteceu com o disco seguinte: Novo Aeon (1975, Philips), que vendeu apenas 60 mil. “Foi a maior decepção, mas dei a volta por cima com Há 10 Mil Anos Atrás.”
Raul conheceu, então, outra americana, Glória Vaquer (“Spacey Glow”), irmã de seu guitarrista Gay Vaquer. Casou-se com Glória e, desta união, nasceu, no Rio de Janeiro, a segunda filha de Raul, Scarlet, em junho de 1976. Nesse ano lançou o álbum Há 10 Mil Anos Atrás, com Raul maquiado na capa como um “sábio ancião”. Chegou então ao fim a parceria com Paulo Coelho, embora conti-nuassem amigos (ou inimigos íntimos).
Decidiu sair da Philips para outra gravadora, a recém-fundada WEA. Marcou esse período o rosto sem barba nem bigode (suas “marcas registradas”) e a relação com um novo parceiro (e antigo vizinho dos tempos do Rio), Cláudio Roberto, professor de ginástica, poeta e cantor nas horas vagas. Juntos realizaram o LP O Dia em que a Terra Parou, em 1977. A crítica não gostou. Foi dito que não mantinha o mesmo “nível” dos trabalhos anteriores. Mas os fãs se deliciam com “Maluco Beleza”, “Sapato 36” e a faixa-título. Raul chegou a fazer alguns shows, mas sem muito sucesso, devido às críticas ao LP. Foi então que se separou de Glória, que, a exemplo de Edith, também voltou aos Estados Unidos com a filha Scarlet.
Voltou de lá mais gordo e com uma nova companheira, Tânia Menna Barreto. Com ela dividiu parceria em seu novo álbum, Mata Virgem (1978, WEA). O disco trazia de volta Paulo Coelho , mas a má divugação atrapa-lhou o LP e a crítica também não ajudou.
As mudanças em sua vida pessoal e profissional somadas a problemas de saúde, abalaram Raul. Para recuperar-se da pancreatite, agravada pelo consumo de bebidas alcoólicas, Raul Seixas resolveu passar alguns meses na fazenda dos pais em Dias D’Avilla, interior da Bahia.
São Paulo o recebeu de braços abertos. Iniciou, então, uma série de shows pela capital e interior do estado paulista. Na Zona Sul da cidade de São Paulo, nasceu, em 1981, a terceira e última filha de Raul, Vivian.
Chegou a fazer uma temporada no Teatro Pixinguinha com sucesso absoluto.
Em 1979 faz seu último álbum para a WEA, Por Quem os Sinos Dobram, em parceria com o amigo Oscar Rasmussen. Raul saiu da gravadora levando sua secretária de imprensa, a carioca Ângela Costa, hoje mais conhecida como Kika Seixas.
Raul assinou um novo contrato com uma velha conhecida sua, a CBS e, em 1980, lançou o álbum Abre-te, Sésamo. O disco vendeu razoavelmente, porém bem menos do que merecia. Raul e Kika decidiram morar em São Paulo e, com a ajuda de Jair Rodrigues, conseguiram alugar uma casa no bairro do Brooklin.
Ainda em 81, Raul rescindiu o contrato com a CBS por pedirem que dedicasse o próximo disco a Lady Diana – ela era ”o assunto do momento”. Nessa época, Sylvio Passos, com 18 anos, comunicou a Raul Seixas que havia fundado o Raul Rock Club. Ele ficou surpreso, e passou a participar ativamente do que denominaria de Raul Seixas Oficial Fã-Clube.
Sem gravadora, mas com um público enorme e fiel, apresentou-se para mais de 150 mil pessoas em 13 de fevereiro de 1982 no Festival Música na Praia, em Santos, São Paulo. Mas Raul andava insatisfeito e mergulhava cada vez mais na bebida, o que levou ao cancelamento de shows e crises de hepatite.
Em maio de 82, apresentou-se tão alcoolizado em Caieiras, interior de São Paulo, que acabou sendo tomado por impostor de si mesmo, sendo preso e ameaçado pelo delegado da cidade.
Deprimido, sem um contrato com uma gravadora e ainda com problemas de saúde, Raul, juntamente com Kika, desenvolveu o projeto da ópera-rock Nuit e saiu batendo de porta em porta, visitando todas as gravadoras. Nada aconteceu. Chegou ao cúmulo de ouvir de um diretor artístico a seguinte frase: “Já estou vacinado contra Raul Seixas.” Magoado, Raul voltou para o Rio e ficou alguns meses num apartamento em Copacabana.
Até que João Lara Mesquita, jovem diretor do Estúdio Eldorado e fã incondicional de Raul, resolveu realizar um antigo projeto e convidou o ídolo para gravar. Raul, Kika e a filha Vivian então retornaram para São Paulo, e, em abril de 1983, o músico lançou o álbum Raul Seixas. O disco trazia também uma faixa gravada, ao vivo, durante um show realizado no Sociedade Esportiva Palmeiras, onde Raul Seixas contou, através das músicas, a história do rock and roll para mais de 10 mil pessoas.
Em 1983, lançou o livro As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor, dividido em três partes: a primeira, um diário escrito entre os sete e os quatorze anos, no qual nota-se um grande conhecimento de rock and roll; na segunda parte, uma série de contos feitos entre os doze e os vinte e um anos; e, finalmente, na terceira, uma história em quadrinhos, chamada A Lei dos Assassinos da Montanha que, segundo Raul, era um bom exemplo de humor negro.
Com o sucesso do disco, do livro e da turnê pelo Brasil, Raul e Kika realizaram uma viagem aos Estados Unidos para acompanhar de perto o que estava acontecendo musicalmente por lá. Voltaram com a bagagem cheia e inspiradíssimos. Raul então assinou novo contrato, dessa vez com a Som Livre e, em junho de 1984, lançou o álbum Metrô Linha 743.
O penúltimo casamento de Raul foi-se rompendo. A sua saúde também não andava boa. Mais uma vez ele decidiu voltar para Salvador, como fizera em 1978, para se recupe- rar. Depois de curta permanência em Salvador, voltou para São Paulo com nova companheira, Lena Coutinho.
Em São Paulo, junto com Lena, procurou uma nova gravadora, mas as portas do mundo artístico pareciam estar fechadas novamente para Raul. Enquanto isso, milhares de fãs e amigos permaneceram na expectativa de novidades. Em São Paulo, no ano de 1985, o Raul Rock Club (o Fã-Clube Oficial) lança o álbum Let me Sing my Rock and Roll, o primeiro disco produzido e distribuído independentemente por um fã-clube brasileiro, disputado hoje a peso de ouro por fãs e colecionadores.
Durante o ano de 1986, Raul e Lena continuaram à procura de uma gravadora e, finalmente, com a ajuda de amigos assinaram contrato para dois álbuns com a Copacabana. Porém, os problemas com a saúde atrapalharam as sessões de gravação no estúdio e o LP, que todos esperavam para esse ano, acabou sendo lançado só no início de 1987. O disco trazia como título o grito de guerra de rock and roll: Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!
O disco tocou de norte a sul do país e mais uma vez, Raul Seixas era notícia, ocupando lugares de destaque na mídia e, o melhor, sua música estava na boca do povo. Contudo, continuava desaparecido dos palcos e da TV devido à sua saúde precária (em parte culpa do problema do abuso de bebidas alcoólicas).
A música “Cowboy Fora-da-Lei” estourou nas paradas de sucesso ganhando videoclipe no Fantástico e a sua inclusão na trilha sonora da novela das sete da Rede Globo. A música revelava uma “quase” paranóia de Raul, onde diz: “Mamãe, não quero ser prefeito/ pode ser que eu seja eleito/ e alguém pode querer me assassinar.”
A música “Não Quero Mais Andar na Contramão”, provou que Raul não estava mais a fim de maluquices e que seu papo agora era paz e sossego, no aconchego do lar… sossego que virou tédio. Marcelo Nova, para tirá-lo desse tédio, convidou-o para viajar para Salvador, onde iria se apresentar.
Raul, que estava afastado dos palcos há três anos (sua última apresentação, ao vivo, foi em dezembro de 1985, em São Caetano do Sul, São Paulo), aceitou o convite. Na capital baiana,iniciaram juntos uma série de 50 shows, que visitou os quatro cantos do Brasil. Uma aventura que acabou resultando no disco A Panela do Diabo, lançado dois dias antes do falecimento de Raul.
A convite do discípulo e amigo Marcelo Nova, então vocalista e letrista do grupo baiano Camisa de Vênus, Raul Seixas participou da gravação do álbum que o grupo preparava para lançar, dividindo vocais e parceria com Marcelo Nova na música “Muita Estrela, Pouca Constelação”, referindo-se ao cenário pop brasileiro de maneira desdenhosa.
No ano seguinte (1988), mostrou que ainda estava “vivo”, lançando, em setembro, o álbum A Pedra do Gênesis, que falava da controvertida Sociedade Alternativa.
Segunda-feira, 21 de agosto de 1989, nove horas da manhã. Dalva Borges da Silva, a empregada de Raul, chegou ao apartamento número 1003, do Edifício Aliança, Zona Central de São Paulo, e encontrou Raul Seixas morto em sua cama. Dalva imediatamente entrou em contato com o médico e a família de Raul. A notícia se espalhou e logo as emissoras de rádio e TV divulgaram o fato.
Fãs, jornalistas e amigos dirigiram-se ao prédio onde Raul residia. Raulzito havia falecido duas horas antes da chegada de Dalva ao prédio, de parada cardíaca, causada pela pancreatite de que sofria há dez anos.
O corpo foi levado para o Palácio das Convenções do Anhembi, Zona Norte de São Paulo, onde foi velado durante toda a noite e madrugada a dentro. Às oito horas da manhã do dia seguinte o corpo seguiu num jatinho para Salvador, onde foi sepultado às 17 horas no Cemitério Jardim da Saudade.
Passados tantos anos de sua grande viagem, Raul Seixas continua mais vivo do que nunca. Desde seu falecimento em 21 de agosto de 1989, o número de pessoas interessadas em sua vida e obra vem aumentando consideravelmente. Pessoas de todas as faixas etárias e classes sociais se organizam nos inúmeros fãs-clubes criados para homenageá-lo. Casas culturais, praças, ruas, parques e viadutos recebem seu nome.
Revistas, pôsteres e cerca de 20 livros enfocando sua vida e obra continuam no mercado. Todos os títulos de sua imensa discografia já foram reeditados em CD, e novos títulos são lançados constantemente. Programas de rádio e TV, romarias ao Cemitério Jardim da Saudade, em Salvador, passeatas, carreatas e inúmeros eventos acontecem anualmente em todo o Brasil nas datas de nascimento e morte, 28 de junho e 21 de agosto, respectivamente.
É por esses e por inúmeros outros motivos que decididamente Raul Seixas está e continuará vivo.
RAUL ROCK CLUB / RAUL SEIXAS OFICIAL FÃ-CLUBE
Caixa Postal 12.106 – Ag. Santana
São Paulo – SP – CEP: 02013-970 – BRASIL
www.raulseixas.org
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FILOSOFIA, RAUL SEIXISMO E SOCIEDADE ALTERNATIVA
Por Carlos Gerbase
Raul Seixas era um filósofo antes de ser um músico. Se fosse apenas músico, não se diferenciaria muito de Sílvio Brito. É claro que, se fosse apenas filósofo, não se diferenciaria de qualquer louco loquaz comum e ninguém prestaria atenção nele. É a combinação de uma percepção original (e às vezes genial) do mundo, aliada à sua capacidade de transformar isso em música (e letra) que faz de Raul Seixas um personagem fundamental da cultura brasileira. Sei que neste NÃO muito se falará das qualidades artísticas de Raul Seixas, de modo que vou tentar me concentrar em seus postulados filosóficos.
Talvez a melhor maneira de compreender Raul Seixas seja através da leitura de "O outsider", do inglês Colin Wilson (um autor, aliás, que merece ser redescoberto). Quase tudo o que se conta no livro sobre Nijinski, Van Gogh e Dostoiesvski aplica-se perfeitamente à vida e à obra de Raul Seixas. O "outsider" (tentei fazer uma tradução, mas não consegui) é aquele cara que "vê" o mundo de uma maneira diferente. Ele tem a capacidade de enxergar coisas que o cidadão comum não enxerga. Ele desvenda a superestrutura da sociedade; ele consegue achar os nexos lógicos da vida onde os outros só vêem o caos.
Esta capacidade não leva a uma vida mais feliz. Pelo contrário. Mesmo utilizando a arte para dar vazão ao que vê e sente, o "outsider" sabe que está fora do mundo, acha que não pertence a ele, que sua vida está irremediavelmente afastada das satisfações cotidianas das pessoas normais, do grande exército de "insiders" que povoa este planeta. Solidão quase absoluta (mesmo cercado de amigos e fãs), frustração com a vida amorosa e dificuldade para relacionar-se com as regras e estruturas da sociedade (mesmo as mais simples) são características que Raul Seixas apresentou em toda a sua vida. Vida, aliás, que teve um fim tão triste quanto o de vários de seus colegas "outsiders".
Raul Seixas falava bastante de uma "Sociedade alternativa", com a ajuda, é claro, de Paulo Coelho. Para efeitos deste texto, vou desconsiderar quem assina as letras, porque creio que Raul acreditava em cada palavra do que cantava, tendo escrito ou não.
Em "Sociedade alternativa" - "Se eu quero e você quer / tomar banho de chapéu / ou esperar Papai Noel / ou discutir Carlos Gardel / então vá: faz o que tu queres pois é tudo da lei".
Em "Novo Aeon" – "Querer o meu não é roubar o seu / pois o que eu quero é só função do eu / sociedade alternativa, sociedade novo aeon / é um sapato em cada pé / é direito de ser ateu ou de ter fé / ter prato entupido de comida que cê mais gosta / é ser carregado e carregar gente nas costas / direito de ter riso, de prazer / e até direito de deixar Jesus sofrer."
Em "As aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor" – "Eu já passei por todas as religiões / filosofias, políticas, lutas / aos onze anos de idade eu já desconfiava / da verdade absoluta."
O que propõe Raul Seixas? Objetivamente, nada. Um de seus versos mais legais é justamente "A única linha que conheço é a linha de empinar uma bandeira". Ele não era de esquerda, muito menos de direita (se bem que, no seu último disco individual, já bastante fragilizado e confuso, flertou com ela). Anarquista? Acho que não. No máximo aproveitou idéias e imagens dessa turma suficientemente anarquista para evitar o rótulo.
(Na edição especial da revista "Caros amigos" sobre Raul Seixas, o próprio aparece vestindo uma camiseta anarquista, mas, no final de sua vida, inchado pela diabetes e destruído pelo éter, Raul certamente não sabia mais a diferença entre anarquismo e trans-sexualismo).
Raul Seixas tinha uma relação profissional estreita com a indústria do disco, produziu bastante e procurou adequar-se ao mercado. O que não o impediu de ser um livre atirador. Era um "outsider" clássico, que mandava suas mensagens ao mundo sem se preocupar em consertá-lo. O que seria impossível, pois ele estava completamente fora do mundo.
Mas vamos lá: o que sobrou da sociedade alternativa de Raul, que renega as religiões, filosofias, políticas e lutas que todos conhecemos? O que sobrou da utopia da geração Raul Seixas, que acreditava numa sociedade com outras regras?
Aparentemente, sobrou apenas o "mago" Paulo Coelho, que vende milhões de livros no mundo todo e continuará enganando o pessoal por muitos e muitos anos. Raul Seixas está morto há dez anos e a tal sociedade alternativa nunca saiu do papel. Até seus milhares de fãs, que hoje são identificados pela imprensa como um bando de hippies tardios, continuam sendo apenas uma caricatura – divertida, mas inconseqüente – do próprio Raul. Eles "cantam" a sociedade alternativa, mas não conseguem vivê-la.
Vamos falar a verdade: a sociedade em que vivemos hoje é tão careta e reacionária quanto a de nossos pais e avós. Ninguém consegue viver "diferente". Ninguém apresenta uma solução nova para as velhas angústias que envolvem o sexo, a constituição de uma família, a divisão de responsabilidades entre homens e mulheres, a relação com os filhos, etc. Talvez tenhamos evoluído um pouco no trato com o homossexualismo, que deixou de ser crime, mas nada que a Grécia antiga já não tenha institucionalizado.
A importância, hoje, de lembrar Raul Seixas é constatar a derrota da nossa geração, que construiu alguma cultura para cuspir na estrutura, mas não a desestabilizou nem um pouco. A democracia representativa, que está morta faz tempo, segue como o único modelo prático de organização política. Que tristeza... A antiga família patriarcal, a "célula mater da sociedade", continua como único modelo de organização social. Que caretice! E o capitalismo, que antes pelo menos tinha pesadelos com o socialismo, agora posa de único modelo econômico possível num mundo globalizado (argh!). Que horror.
A "sociedade alternativa", que um dia já pareceu tão possível que levou Raul a ser interrogado e torturado pela ditadura ("Me diz aí o nome dos integrantes dessa sociedade...") hoje não assustaria nem aos arapongas neo-liberais do Fernando Henrique. Todos se dizem alternativos. Há uma música alternativa, um teatro alternativo, um cinema alternativo. Mas uma "sociedade alternativa" não há. Talvez nunca haja.
Algumas pessoas, é claro, ainda escolhem ter uma vida alternativa. Uma opção individual e que exige uma dose de coragem que beira a loucura. Estas pessoas, caro leitor, estão condenadas. Porque não há, no final do milênio, direito de ter riso, de ter prazer, e muito menos direito de deixar Jesus sofrer.
[ Fonte: www.nao-til.com.br ]
LETRA COMENTADA / "Sociedade Alternativa" ( 355 - 21/12/2010 )
Por Leonardo Davino ( Para Cleber Henrique )
Os vivas cantados por Raul Seixas à sociedade alternativa no disco Gita (1974) incendiaram imaginações e despertaram novos impulsos de vida. Atraído pelas ideias de Aleister Crowley, Raul cantou o "faze o que tu queres há de ser tudo da Lei". Aliás, a tal "Lei" citada na letra é uma referência ao livro The book of the law, de Crowley.
Utópica, a sociedade alternativa pregava o direito de ser ateu ou de ter fé: idealizava a liberdade como potência máxima e direito "de ter riso de prazer, e até direito de deixar, Jesus Sofrer".
Algo místico-filosófica, é difícil definir a Sociedade Alternativa; interpretá-la; e até canta-la. Raul tomou para si a tarefa de dá-lhe vivas; de espalhar o desejo por uma sociedade em que cada indivíduo pudesse encontrar um caminho, desenvolvido pela energia interior, além daquele oferecido pela sociedade "oficial".
Segundo Raul, no vídeo Raul Seixas também é documento, "(...) se você não está na Sociedade Alternativa, a Sociedade Alternativa sempre esteve dentro de você", apontando o caráter do voluntarismo individual para que a Sociedade se concretize.
Em tal sociedade o conhecimento é livre: de todo mundo e de ninguém. O que desestabilizaria hierarquias historicamente construídas para a centralização do poder. Raul, sua persona, punha em crise tais poderes; sonhador, ele criava mundos alternativos onde senhor e escravo davam as mãos: "todo homem e toda mulher é uma estrela" - gente viva brilhando.
No fundo, vale a pena continuar sonhando com isso, menos com palavras e mais com atitudes, como Raul fez, aliás, é este o sonho que nos move: a promessa de tempo e de espaço livres para a criação da felicidade diante do simples fato de caminharmos sobre a terra. E viva viva qualquer coisa que nos faça humanos! Ou não?
"Sociedade Alternativa"
(Paulo Coelho / Raul Seixas)
Viva! Viva! / Viva a Sociedade Alternativa
(Viva! Viva!)
Viva! Viva! / Viva a Sociedade Alternativa
(Viva o Novo Eon!)
Viva! Viva! / Viva a Sociedade Alternativa
(Viva! Viva! Viva!)
Viva! Viva! / Viva a Sociedade Alternativa...
Se eu quero e você quer / Tomar banho de chapéu
Ou esperar Papai Noel / Ou discutir Carlos Gardel
Então vá / Faz o que tu queres
Pois é tudo / Da Lei, da Lei
Viva! Viva! / Viva a Sociedade Alternativa...
"- Faz o que tu queres / Há de ser tudo da Lei"
Viva! Viva! / Viva a Sociedade Alternativa
"- Todo homem, toda mulher / É uma estrela"
Viva! Viva! / Viva a Sociedade Alternativa
(Viva! Viva!)
Viva! Viva! / Viva a Sociedade Alternativa...
"- O número 666 / Chama-se Aleister Crowley"
Viva! Viva! / Viva! a Sociedade Alternativa
"- Faz o que tu queres / Há de ser tudo da lei"
Viva! Viva! / Viva! a Sociedade Alternativa
"- A Lei de Thelema"
Viva! Viva! / Viva a Sociedade Alternativa
"- A Lei do forte / Essa é a nossa lei
E a alegria do mundo"
Viva! Viva! / Viva a Sociedade Alternativa
(Viva! Viva! Viva!)...
Nota: Leia outras 364 letras comntadas de diversos compositores brasileiros no blog 365 Canções.
[ Fonte: 365cancoes.blogspot.com ]
Raul Seixas e Silvio Brito / Veja Como Foi a Relação Entre Raul Seixas e Sílvio Brito
Durante o ano de 1973, Raul Seixas ganha uma grande projeção no cenário musical brasileiro com Ouro de Tolo. Na música, Raul Seixas dá um tapa na cara da classe média consumista e do milagre econômico brasileiro.
Já em 1974, um mineiro chamado Sílvio Brito aparece com a música Tá Todo Mundo Louco. A música é muito parecida com Ouro de Tolo e Silvio não esconde isso de ninguém quando canta: "Eu fiz tudo pra não fazer um plágio, mas ela saiu muito parecida com a música do Raul Seixas". Não apenas a melodia, mas o discurso da dupla é muito parecido.
Depois do sucesso, Silvio Brito emplacou outras músicas. Fez sucesso com Espelho Mágico, onde faz questão de vender sua imagem de "maluco, mas feliz"; e Pare o Mundo Que Eu Quero Descer que é uma música de protesto.
A resposta de Raul veio na música Eu Também Vou Reclamar: "Mas é que se agora, pra fazer sucesso, pra vender disco de protesto, tudo mundo tem que reclamar. Eu vou tirar meu pé da estrada e vou entrar também nessa jogada e vamos ver agora quem é que vai aguentar! (...) Ligo o rádio e ouço um chato que me grita nos ouvidos 'Pare o Mundo que eu quero descer!'".
Apesar disso, Silvio e Raul sempre tiveram uma relação amigável. Silvio sempre fez questão de dizer que era amigo de Raul e de que era da mesma linha musical do roqueiro. Inclusive, Silvio Brito gravou em 1996 uma belíssima homenagem a Raul Seixas - a Música Com um Abraço ao Raul.
Comentário:
"Olá! Parabéns pelo excelente site dedicado a memória do eterno "Maluco Beleza". Com certeza irei divulgá-lo. Como disse Raul Seixas: "Parecido comigo, só mesmo o Sílvio Brito. Esse tinha umas coisas na minha linha". Lindíssima a Música do Sílvio em homenagem ao Raul... Felicidade para todos!".
Pedro Jorge - Arapiraca/AL.
[ Fonte: memorialraulseixas.com, 23/08/2011 ]
[ Editado por Pedro Jorge ]
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